Pervertidos perversos
- Eduardo Simbalista
- May 27, 2016
- 2 min read

Inominável, indefinível, inacreditável, inadmissível, intolerável. Ouvimos todas as indignações e estupores em relação ao estupro coletivo deste maio na comunidade de São João, Boavista, Rio de Janeiro, Brasil.
Não é o primeiro caso no Brasil – diz a estatística de que é um caso a cada 11 minutos – e muito menos no mundo. Todos os casos já esquecidos.
E tampouco é apenas questão de quantidade de bestas envolvidas. O Rio parece ter batido o recorde da Índia onde cinco estupraram a destemida Nyrbhaya. No Rio das Olimpíadas: ontem, eram 33, hoje, 30, amanhã, 15, depois de amanhã, 10 ou nove, daqui a uma semana, quatro, dois, um envolvido. Nenhum indiciado. Os advogados sabem trabalhar e, afinal, os clientes pagam bem. E até a sexta-feira, 27, uma semana depois, a polícia sequer havia periciado o local do “suposto estupro”.
Não havia ainda crime. Um suspeito é injustamente chamado Belo, outro atende pelo patriótico nome de Brasil, outro ainda – se bem entendi – leva o sobrenome bíblico de Perdônio.
Não é do estupro em massa que falamos; agrava, mas na essência ter sido coletivo ou individual, plural ou singular, a quantidade de atores não muda a qualidade do crime. Nem falamos do fim da “cultura do estupro”, como se depreende do debate sobre o feminicídio.
O fato do vídeo do estupro ter sido o mais acessado, o mais assistido e o mais curtido na web nos diz mais. Revela muito do que somos.
Tendo havido ou não o “mass rape” (e muitas versões vão rolar, inclusive denegrindo e culpando, desde já, a vítima que, talvez, já estivesse detida se fosse “dimaior”), não houve apenas estupro. Parece ter havido tortura, num ambiente de terror.
Não foi amor, nem de longe, nem ódio, nem tesão, também não, nem o prazer que os moveu. A zoação de bestas feras? A azaração de tarados? A vaidade dos predadores?
Quando a maldade, a ignorância e a bestialidade se juntam,
Quando a insanidade e a loucura se drogam,
Quando a perversão une o pervertido e o perverso, a barbárie se instala. Ninguém sabe quem são os abutres e quais são as hienas.
A mulher brasileira que ontem se perguntava se “dá para confiar nos políticos” hoje perguntará simplesmente: “dá para confiar nos homens?
Ou simplesmente ter nojo?




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