Um amante a mais não cansa
- Eduardo Simbalista - DP
- Jun 10, 2016
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É notável ser a mulher capaz de relações ilimitadas e só ela, ao contrário do macho, saber graduar sua participação na cópula, desde a paixão irrefreada até a indiferença mais completa, que é a sua defesa indefensável contra a violência do estupro. A resistência da mulher é fria como gelo. E gelada como vingança.
Mas, “ha un limite nell’uomo l‘ardor virile”. Tolhem-se aos mais velhos, sobretudo aos que vestem a máscara do respeito, as forças para o exercício do amor, embora a natureza e os humores não lhes tolham as vontades, os desejos e os pensamentos lascivos. Mesmo quando o desejo dá lugar ao cansaço e ao tédio, ainda se ouvem os últimos uivos outonais.
Agora que o vulcão se extingue, não corre emoção nas velhas veias secadas de emoção nem arrepios pelos poros. A emoção toca em outro diapasão, sem os sustos da paixão e os arrepios do amor.
Mesmo da mulher, na idade da loba, em frêmitos lascivos, ouvem-se os últimos vagidos vaginais; no peito maduro, o ardor mórbido de desejos impuros, no corpo, as mornas labaredas do amor, a libido perdida pelo caminho.
Quando vêem abertas as portas do matadouro, velhos peralvilhos, com ademanes de moços, e mulheres, com saltos altos a um passo da cova, vão exibir seus rostos e colos como ruínas restauradas, rugas mal disfarçadas, bocas exibindo dentaduras de lubricidade senil, lábios caídos para o derradeiro grito de apoplexia.
Valha-nos ainda uma vez Ovídio: “Para a mulher, um amante a mais não é tão cansativo”




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