Mil formas de amar
- Eduardo Simbalista - DP
- Jun 12, 2016
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O amor, além do prazer erótico, é a plenitude e a alegria do compartilhamento, da cumplicidade, da fusão de corpos e almas. Aos pársis, praticantes do zoroastrismo, recomenda-se que orem antes da união, pois em nenhum momento os corpos se elevarão tão alto, em êxtase místico em que um e outro mergulham nas profundezas do amor para jorrar com júbilo e alegria.
A sexualidade é imperativo biológico, dever vital, mais do que direito consentido. O sexo não merece repressão, mas aceitação e compreensão.
A homossexualidade, tanto quanto a hetero ou a plurissexualidade do poliamor, comporta todos os graus, nuances e variações do amor: do platonismo à saciedade, da abnegação ao sadomasoquismo, do “normal” ao psicopata. Há vários tons intermediários entre a homossexualidade exclusiva e a heterossexualidade exclusiva.
A teoria do poliamor, do bissexual, do homme-femme, das “sexuelle Zwischenstufen” (graus intermediários da sexualidade) que inspirou Marcel Proust, explica alguns casos de homossexualidade, mas não as perversões, a inversão, a afeminação e a sodomia. Explica o “amor grego”, o gosto dos velhos por meninos e eunucos, vício sírio de afeição e amizade, que não implica na afeminação.
Há degenerados, viciados e pervertidos que vão se interconectar no arco da sexualidade.
Há tarados perversos, como os padres sacrílegos e abades devassos que rompem e corrompem o triduum da castidade, entregando-se ao vício pecaminoso da masturbação durante as orações.
Quando a masturbação, a expressão orgasmática do pensamento impuro, pode ser a mais pura forma de amar, pois é a posse não invasiva: é possuir sendo possuído.
Próxima da tortura mútua, uma das formas mais sublimes do amor é a da “carezza”, antiga prática de amar hindu, que se realiza pelo casal enlevado e embevecido da contemplação mútua em que o “pennis captivus” permanece imobilizado num demorado abraço à moda das rãs.
Na “carezza”, a ejaculação é interna: homem e mulher absorvem o gozo no próprio sangue; a par de ser original método anticoncepcional, está em linha com a definição ioga do amor, baseado na renúncia que ensina ser a vida nada, todo acontecimento ilusão e todo prazer amargo.
“What is this thing called love?”, indagou Cole Porter. O prazer é momentâneo, a posição ridícula, observou Chesterton dando uma pitada de british humour à tirada de Marco Aurélio, o imperador sábio: o amor é troca de fluidos em posição ridícula.
É que o homem acabou abandonando a cópula por trás, more bestiarum, comum aos mamíferos, em que o macho alcança a fêmea esquiva, morde-a na nuca e insinua-se entre as suas coxas.
They say that falling in love is wonderful.




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