Cólicas Melancólicas
- Eduardo Simbalista, DP
- Jul 3, 2016
- 2 min read
Astúcias e ardis do efêmero e do transitório
Ia escrever sobre a imanência e a transcendência na fenomenologia husserliana. Ora, pensei: o que é a imanência e a transcendência diante de um chefe deploravelmente arrogante e incompetente, de um café frio, de um metrô lotado e de um chope quente?
Melhor, falar do efêmero e do transitório.
O efêmero e o transitório são habitués desta praça. Afinal, há uns bons milhões de anos, no equilíbrio instável entre o momento e o destino, entre a vertente e o desatino, surfamos nesse vórtex a milhares de quilômetros por hora. O metrô está parado? Pouco importa. Se ao menos ela olhasse para mim no metrô. Na rotação desse planeta azul, que se repete em eco num bilhão de outros planetas na órbita de outro bilhão de sistemas parecidos, o efêmero marca o tempo que não existe: o que é já foi. Esqueça o trânsito parado: tudo passa, tudo voa.
Vivamos as paixões ainda que transitórias. Vivamos as glórias ainda que transitórias.
Todas as alegrias e todas as decepções: o amor perdido, o emprego perdido. Si transit gloria mundi. O desemprego, mesmo, vivamo-lo. Dá-lo-á no mesmo sofrer ou não sofrer a dor do desemprego. Recomendação do presidente, homem sábio, há anos na política e conhecedor astuto das verbas de gabinete: vana verba, palavras vãs, palavras ao vento.
E porque é o homem este sucesso todo sendo tão bobo? Esta capacidade imensa de sobrevivência, sendo tão tolo? Esta vaidade tola de achar-se o centro deste universo de um bilhão de planetas na órbita de outro bilhão de sistemas? Porque o homem é muito ladino, e com jeitinho, pedindo ajuda a Nossa Senhora da Ajuda, vai tropeçando obstáculos, driblando as dificuldades que ele mesmo cria para, como um garrincha da vida, enganar os deuses que o criaram.
Já não existe o tempo, não existe a hora; agora, coexistem o tudo e o nada, nenhuma diferença fazem o imanente e o transcendente. Já não há o certo ou o errado fenomenológico, nem o relativo ou o absoluto: até o absoluto é, agora, relativo nessa relatividade do incerto.
Sem emprego, sem amor. A pergunta que se deve fazer ao se despedir dos amigos do trabalho amanhã é como ser estúpido sem parecer estúpido a ponto de não perceber o simples. A resposta está no manual do idiota incompleto, que será publicado tão logo completo.
Enquanto isso, fique no efêmero e transitório ambiente chiaroscuro, vivendo as astúcias e ardis do amor intransiente e intransigente do amar, verbo intransitivo. Afinal, hoje será ontem amanhã.




Comments