Encontrei Pokemon
- Eduardo Simbalista, DP
- Jul 25, 2016
- 2 min read

Acabou o tormento existencial de encontrar o outro; nada de buscar árduos caminhos para tentar me encontrar no outro. Agora, basta baixar o aplicativo Pokemon Go e o outro estará logo ali, na esquina do celular.
Nunca as plataformas móveis deram tanto sentido à mobilidade. Em vez de ficar teclando nadas no metrô ou no shopping, fingindo que não vejo quem não quero ver, agora, idiota mesmerizado, corro em grupo atrás do Pikachu.
Adeus amigos incertos do fb, que às vezes me fazem sentir tão só e isolado: agora tenho o Pokemon que me aceitou como amigo de aventuras. Há uma criatura no jardim, outra logo aparecerá na copa da árvore. Sigo aquele grupo guiado pelo GPS. O que faço com o Pokemon? Devo alcançá-lo? Devo atraí-lo? Devo capturá-lo?
Ah, o sentido da posse... O que farei com ele? Lanço uma Poke-bola? Porque todos o seguem? Porque todos o querem? Ele é tão fofinho...
Agora tenho um amigo verdadeiramente virtual com virtudes da realidade aumentada.
Aceitou ser meu melhor amigo desde que fique com os olhos atentos para, nos atalhos da procura do outro, não cair no buraco nem pisar no cocô.
Pokemon acaba de inventar o boneco virtual que me emociona e se emociona: ele joga comigo, de vez em quando desaparece, se esconde, para reaparecer adiante. Eu acho que brinco com ele, mas é ele que parece estar no comando. Será um vício virtual? Será um vírus? Será um terrorista do mal? Parece que não: está proibido no Egito por não seguir as regras do Islã. E corre o risco de ser proibido no Japão, onde nasceu, por não seguir regra nenhuma.
Estou cegado pelo celular. Acabou a minha desesperada busca pelo outro; tchau neurose obsessiva: agora vou encontrar Pokemon.




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