A beleza, o que é?
- Eduardo Simbalista, DP
- Aug 1, 2016
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É a água do córrego? As pedras ao fundo? Os peixes? Os cavalos marinhos?
A onda do mar? O horizonte no mar? A linha da montanha? O pianista ao piano?
As malas de viagem? O caminho das Índias? As índias do caminho? Uma caçada de sangue?
A amizade retomada? O baterista tocando? A cozinheira em suas panelas?
A neta penteando os cabelos? O sorriso? A neta perguntando: quantos anos mamãe tinha quando você ficou velha?
As velhas conversas, os papos sem trela no sobrado do Porto? A bochecha do leitão do Bolhão? O acender da vela?
A noite chegando? A noite passando? A noite amanhecendo?
As mudanças, as transformações.
O canto do galo? O sol refletido na neve, ainda que por um instante breve?
O arrastar das chinelas? O pão quente? O café quente? A manteiga torrada?
O cão tentando entender porque o carinho é tão importante para o almocreve?
O caleidoscópio quebrado em vidrilhos de todas as formas? As cores da matinê em cinemascope?
O irmão da fé e o sinal da cruz? O mármore, a madeira, o ferro.
As curvas quaisquer, de preferência de mulher.
A vergonha, o pudor de tanto amor.
O balé sem dor, a flor de qualquer cor?
O sorriso e, ah, o olhar enigmático e incompreensível. A mão para tocar.
Aquele Chevrolet Impala conversível? 58? O som do motor.
A gasolina, o incenso? Velhos vinhos, velhos retratos, a Mona Lisa.
O biscoito de goma e o pequi de Montes Claros?
Os ovos moles dos monges avaros?
O trem, a estação, os impressionistas, os modernistas, a saudade, o zazap.
A dor da memória é a beleza.




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