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O valor do dinheiro

  • Eduardo Simbalista, DP
  • Aug 8, 2016
  • 2 min read

Sou ladrão porque tenho pouco dinheiro; se o tivesse de sobra, seria banqueiro. É o que me confessa um mendigo amigo do centro da cidade. Tem a mesma sabedoria do pirata interpelado por Alexandre, o grande, sobre a vergonha de pilhar os mares: “Sou pirata porque possuo apenas um navio; tivesse uma esquadra e seria conquistador”.

De fato, não há profissão que se tenha tornado mais honesta, nesses tempos difíceis, do que a do ladrão que, numa prestidigitação mágica, consegue passar para o seu bolso o dinheiro ou o celular que, há um instante, estava no nosso.

Pelo menos não nos enganam com a desculpa momentânea de sistemas fora do ar, cobranças intermináveis de tarifas e promessas esfarrapadas de terrenos na lua, bilhetes premiados, lucros e dividendos do petróleo ou projetos governamentais de interesse social que são, na verdade, vitrines para o enriquecimento pessoal.

Tudo isso vem a propósito da história do “Mão de Luva de Cantagalo” que a televisão vai mostrar. Era a época em que os ladrões de casaca, elegantes como Arsène Lupin, eram admirados pelos seus feitos noturnos à Robin Hood. Roubavam dos ricos – já que os valores dos pobres têm pouco valor de revenda; a riqueza dos pobres costuma ser aquela que o dinheiro não compra.

Lembra Pitigrilli que o filósofo Antipo lançou suas moedas ao mar, dizendo: “Ide para as profundas, eu vos submerjo para não ser por vós submergido”. E seguiu a viver sua vida simples.

Dos males do dinheiro, o pobre que vive na filosofia está livre. Embora sempre se poderá deixar enganar pelas falsas promessas dos ladrões de voto e pelas ameaças reais dos impostores cobradores de impostos que daqui a pouco vão ver atividade econômica na mendicância e na reciclagem a que se dedicam os que reviram lixões, espantando urubus e a miséria, à margem da sociedade que não os deixa entrar.

Outro amigo da cidade, o livreiro Olivar, pouco se importa se levam livros do seu sebo sem pagar. Quem quer ler e não pode pagar...

Afinal, um livro para quem quer ler, tem tanto valor quanto os sapatos para quem gosta de andar. Antes de precipitar-se na cratera do Etna, um filósofo grego tirou as sandálias, pois dava a elas valor maior do que à vida.


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