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Anúncios fúnebres

  • Eduardo Simbalista, DP
  • Sep 1, 2016
  • 2 min read

Há agora na televisão a oferta imperdível de uma funerária que garante descontos de até 50% se o cliente morrer no prazo de seis meses.

É garantido e sem o risco do dinheiro de volta, já que, no caso, o paciente da morte impaciente já estará com o pé na cova.

Ocorreu há anos nos Estados Unidos – quem lembra é Pitigrilli em “Ocasiões” – a tentativa de suicídio de uma senhora de tamanha avareza, que foi jogar-se num lago apenas para não perder a boa ocasião oferecida pelo anúncio de uma funerária: “Preços de liquidação; magnífico funeral com túmulo de mármore e flores durante três meses, por 60 dólares. Só por quinze dias. Aproveitem!”

Quando se enterra o corpo, a alma vai junto: “animamque sepulcro codimus”, lembrou Virgílio no funeral de Polidoro. O anúncio fúnebre de agora pode estar certo: não deve haver nada mais horrível do que morrer sem sepultura, embora haja a opção da asséptica cremação.

Enterrar seus mortos é do homem: cada família sepulta seu morto, como dever de parentalia.

Se não se enterra o corpo, preveniam os antigos, a alma insepulta, errante, jamais poderá ser encontrada para a reencarnação; o corpo insepulto, deixado à rapina das aves e dos cães, sofreria o suplício perpétuo das almas errantes, gemendo e chorando na noite silenciosa e punindo a negligência ímpia com doenças e catástrofes.

A religião da morte tem dogmas, ritos e cerimônias. É dever chorar a morte de crianças, mas não há desrespeito em festejar a morte dos velhos. No norte de Minas, a morte é comemorada com uma boa cachacinha da cabeceira, como entre os hindus se oferecem arroz, raízes e licor a seus mortos ou como entre os egípcios e os gregos se levavam leite, vinho, óleos, incensos e perfumes.

Mesmo com tanto prenúncio morrer não é tão fácil, embora dela não adiante fugir, nem se esconder: a morte irá encontrá-lo para o beijo final. Os cantos dos rouxinóis vêem dos quatro quantos pelas flautas mais doces.


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