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O som ao redor de Aquarius

  • Sergio Bandeira de Mello, Gico
  • Sep 21, 2016
  • 2 min read

O excelente artigo de Carlos Andreazza, publicado no Globo de hoje, sobre os militantes do filme Aquarius, coloca a nova obra do diretor de “O som ao redor” em debate sob o prisma que eu já vinha discutindo por aí apesar de não ter visto o longa-metragem - e bota longa nisso -, especialista que sou em marketing.

Portanto, se você quer a minha isenta opinião sobre a extensa narrativa que suporta o assédio habitacional a uma senhora, não posso dizer se é ou não uma Brastemp, apesar de ter adorado a cena da máquina de lavar de “O som ao redor”.

A despeito de cinematográfico idoso e remediado aposentado, ando atrás de uns biscates, chamado pelo mercado de frila, para conseguir completar a minguante aposentadoria da Petros, razão pela qual ainda não consegui reunir tempo para dedicar meu saco a 2 horas e 24 minutos de projeção sem intervalo.

Resumindo o roteiro do presente artigo, não estou boicotando a obra como sugeriu um colunista da Veja, cujas palavras foram incorporadas ao próprio cartaz, mas apenas esperando nosso Ben Hur pernambucano passar no Now, onde a tecla pause do controle remoto poderá ser acionada antes que o saco ou a bexiga venha a estourar.

Alerta feito, vamos ao case.

Graças à denúncia do golpe de estado em curso no Brasil, feita no festival de Cannes, Aquarius viajou da Côte d’Azur até o Jornal Nacional com escalas em todos os noticiários da tevê brasileira, ocasião em que Sônia Braga passou à condição de favorita ao prêmio de melhor atriz do festival.

A não consumação da previsão dos especialistas, talvez pela pressão do então interino Itamaraty, constituiu a primeira grande injustiça com a obra-prima, merecedora ela própria da Palma de Ouro.

De lá pra cá, muita água rolou. E, provavelmente, muito vinho para garantir o leite das crianças dependentes da imprensa. Depois de Chatô, que atingiu as páginas culturais, políticas, de economia e policiais, talvez o preterido de Cannes tenha sido aquele que gerou mais “mídia espontânea”, em espontaneidade raramente vista por estas bandas.

Reerguido pela mídia, até um membro ereto foi levantado para sustentar uma suposta perseguição da censura, que classificou o filme como não recomendado para menores de 16 anos. De fato, considerada a idade da militância que é tema do mencionado artigo, a faixa etária cortada por causa do elemento mais realista da orgia seria perda considerável.

A celeuma rendeu dias e dias de suruba midiática, com manchetes explícitas até o lançamento de Aquarius, quando eclodiu a guerra dos números, motivo para infinitas notinhas nas colunas localizadas dentro e fora do eixo. Espectadores passavam ao largo ou lotavam as salas, como se a matéria interessasse a mais de meia dúzia de gatos pingados, por sinal do mesmo saco que elegeu Dilma e Temer.

Sim, um saco, mas nada comparável à comoção causada pela não indicação do extensa-metragem ao Oscar, quando duas votantes na comissão foram execradas por não terem comparecido à reunião que sacramentou o “sem mídia”, cujo nome me escapa agora, o da família velejadora, para competir na Academia de Hollywood. O voto puro e simples, sem uma apaixonada defesa, à moda do ex-personal AGU do coração valente, não valia, pareceu uma traição à causa, uma ofensa ao case.

O som ao redor de Aquarius é de choro, vaias, freadas, sirenes e buzinas. A vida continua.


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