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AA e CC não nos representam

  • Nilza Rezende
  • Nov 21, 2016
  • 3 min read

Adriana e Claudia

AA e CC têm tantos pontos em comum que poderiam ser irmãs. E gêmeas. E gêmeas univitelinas, aliás. As duas são idênticas, têm o mesmo gosto, manias e hábitos. As duas gostam de políticos - desde meninas, aliás. Quando as amiguinhas sonhavam com o primeiro amor, AA e CC sonhavam com o primeiro político. E político do PMDB, claro, que elas sabem que PMDB é partido que não decepciona: tá sempre ali, firme, tanto nos resultados quanto nos roubos. Foi assim que AA e CC cresceram: de olho nos palácios e nos políticos de prestígio – “se apaixonar” por um vereadorzinho, quê isso, gente? Pense grande. AA casou-se com SC, o governador; CC escolheu EC da Câmara: dois políticos que, com empurrãozinho das esposinhas, poderiam chegar à Presidência. E ser primeira-dama era o sonho dourado das meninas.

Para isso, AA e CC não pouparam esforços. AA se formou em Direito; CC fez Jornalismo. Mas a vida é dura, e logo AA e CC viram que, se há um caminho para encurtar a jornada, por que estendê-la? AA abriu seu escritório a negócios escusos e enriqueceu. CC abriu seu coração para os eventos do marido e enriqueceu. Pera lá, enriquecer é eufemismo. As duas viraram bi.

E foi nesse enriquecimento que AA e CC tornaram-se espelho uma da outra. Quando um sapato de dez mil dólares chega à loja, a vendedora já sabe para quem telefonar. E acerta: o que AA compra, CC também compra. E o que CC faz, AA também quer fazer. Com pequenas e tolas diferenças, como, por exemplo, enquanto o armário de AA é arrumado por marca importada, o de CC, pelos preços dos produtos. E que produtos!

AA e CC não economizam. São esbanjadoras, gastadeiras, exibicionistas, nouveaux riches. Querem tudo e muito. Anéis, vestidos, sapatos, colares, viagens, champagnes, presentes. Fortuna com fartura. É bem verdade que isso não adianta muito, a turma do Country as acha“sem berço”; para a festa das globais elas não são convidadas; na praia, sem etiquetas, elas se parecem com as pessoas que elas humilham; na rua, ninguém as observa. Coitadas das meninas! Por isso elas têm raiva e têm fome. Fome de quê? De coisas e de riqueza – aliás, esse é o apelido com que SC chama AA: “riqueza”. Não duvido nada que EC chame CC de “fortuna”. Riqueza e fortuna em uso não metafórico. É o que elas sempre quiseram. AA e CC escolheram o caminho do bosque, não o da floresta. E encontraram o lobo - aliás, dois.

Pois AA e CC não nos representam. Nós temos medo de lobos. Nós não damos a vida por um bidê que ofereça três temperaturas. Nós só queremos um chuveirinho. Aliás, milhões de mulheres nesse país só querem um vaso sanitário. Nós não queremos um anel de 800 mil, para andar com ele onde? Nós queremos flores. Não queremos também fazer sucesso à custa do maridão. Nós lutamos por nossa independência e não pretendemos barganhá-la. AA e CC não nos representam. Não queremos participar de falcatruas, muito menos depender delas e dos homens que as comandam. Queremos ter o nosso dinheiro para poder pagar as nossas contas e os nossos prazeres. Queremos poder usufruir de cara limpa dos filhos, amigos e vizinhos – isso não tem preço.

Num mundo em que as mulheres estão brigando por direitos, AA e CC estão preocupadas com o sapato. Pobres meninas ricas.

AA e CC são ícones de uma mulher que parecia nem existir mais. A fútil, a malandra, a interesseira, a desonesta, a exibida, a cafona. Porque isso ninguém é capaz de negar: AA e CC são muito cafonas.

Agora AA e CC têm algo mais em comum. As duas têm seus maridos presos. E talvez, num futuro próximo, as duas, elas mesmas, sejam presas. E aí, com o mesmo uniforme, vai ficar difícil reconhecer quem é uma e quem é outra. Até os maridos poderão se confundir. Mas que diferença faz? Nenhuma. AA e CC não têm personalidade. São apenas imagens de um mundo podre e fútil. Clones de uma mulher que não queremos e não invejamos ser. Definitivamente, AA e CC não nos representam. Pois como diz a canção de Chico:

Eu sou mais eu, mais gata Numa louca serenata Que de noite sai cantando assim Nós, gatos, já nascemos pobres Porém, já nascemos livres Senhor, senhora ou senhorio Felino, não reconhecerás


 
 
 

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