Dauphins & Czares
- Jason Prado, DP
- Dec 10, 2016
- 2 min read

Que vantagens e desvantagens tem uma pessoa por ser filha de outra?
Em um artigo n’O Globo de hoje, Lu Lacerda chama a atenção para o estigma e as perseguições por que estão passando os filhos de políticos e empresários corruptos, vítimas de linchamento moral e bullying nas escolas.
Sob o ponto de vista ético, é um ângulo a ser respeitado e reforçado, especialmente no âmbito da escola, onde esses valores são transmitidos sob a força da alteridade e do convívio social.
Mas gostaria de sugerir uma reflexão a partir do comportamento dessas próprias famílias, que, embora não justifiquem o linchamento moral dos seus rebentos, deixam, sim, a população, com a mais absoluta certeza de que não se pode separar o comportamento de uns e de outros: as pessoas que estão no centro desses escândalos não tratam aos seus filhos e cônjuges de outra forma, que não como príncipes e princesas, herdeiros naturais e privilegiados de suas atitudes espertas e de sua falta de caráter. Isso para dizer o mínimo.
Claudia Cruz e sua filha não nos mostram isso?
Adriana Ancelmo? Marcelo Odebrecht, ele próprio o terceiro de sua linha de poderosos operadores do Estado?
Qual foi o capital político e financeiro, por exemplo, que elegeu o Sr. Marco Antônio Cabral, aos 24 anos, deputado federal pelo Rio de Janeiro com quase 120 mil votos? E, na sequência, o transformou no ilustre Secretário de Esportes do Estado do Rio, às vésperas da Copa do Mundo e da Rio 2016?
Que gloriosos feitos fizeram do Sr. Renan Filho prefeito de Murici aos 25 anos, e depois o levaram ao governo de Alagoas? E os Barbalho? Os Magalhães? Os Alencar? Os Garotinho? Os Picciani?…
E nem mencionei os Silva, essa outra corrente de prodigalidade à brasileira.
Desavergonhados, esses políticos transformam suas vidas em principados.
E os transmitem à prole sem qualquer pudor. Pelo contrário, nos constrangem, muitas vezes, pela demonstração de luxo, riqueza, ostentação e impunidade.
Basta ver seus cavalos na Hípica (e Cabral não foi o precursor dessa modalidade), seus passeios pela Europa, seu desapego com os cartões de crédito.
Como não hostilizar ladrões que se julgam Mandarins, Príncipes da modernidade?
Como é possível separar o comportamento dos pais desses benefícios que estendem aos seus filhos em escolas internacionais, carrões importados e cargos públicos comprados pela corrupção?
Não há mudança social significativa fora das revoluções, e não há revoluções sem derramamento de sangue. Foi assim com os Dauphins de France, os herdeiros de Luis XVI. Foi assim com a família do Czar Nicolau II.
Com a crise econômica, o desemprego brutal instalado e os números inacreditavelmente covardes de jóias, carros e valores roubados, desnudados pelas delações e investigações criminais, só ficaremos afastados desses dois problemas - o sentimento de repulsa e a tensão de uma revolta popular - quando os poderes da República derem uma demonstração inequívoca de que estão pautados pelo compromisso moral com a “coisa pública”, e não pelos interesses pessoais nas “coisas públicas”.
E isso, infelizmente, não foi o que assistimos até aqui, muito menos nesta semana que se encerra.




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