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Renas e Renans

  • Sérgio Bandeira de Mello, Gico
  • Dec 20, 2016
  • 2 min read

A magia do Natal explica muita coisa. Desde os meus 5 anos, influenciado por meus irmãos e primos mais velhos, passei a duvidar de Papai Noel enquanto instituição. Isso no mais amplo sentido da palavra. Portanto, já lá se iam 56 anos de descrença no bom velhinho até a noite de ontem, quando me dei conta de que a maior festa da cristandade sempre caía nos recessos do Judiciário e do Legislativo. O que aconteceu antes? O ovo ou a galinha? Ou melhor, o ovo ou a missa do galo? Era recesso por causa do natal ou o natal se dava por causa do recesso, dado que o Brasil é um país laico? Seria o 13º salário, que possibilitava que laranjas fizessem o papel dele na chaminé inexistente?

Eureca! – gritei para os meus botões, tomando emprestado o termo de outro bom velhinho, este sem roupas de inverno ou verão, enrolado na toalha, e também numa tarefa encomendada pelo malvado rei de Siracusa.

O problema remontava ao verdadeiro material utilizado pelo ourives encarregado da confecção de sua coroa. A expressão grega marcou o desvendamento da charada do empuxo, decifrada pela compreensão do fenômeno explicado pela hidrostática, descoberta física anterior ao nascimento de Cristo. Já em bom português, em outras palavras, conta uma história de corrupção e superfaturamento provada em uma banheira, sabidamente uma versão rudimentar de lava-jato das partes. Mas voltemos às fantasias infantis.

Desde o SAC – Serviço de Atendimento à Criançada – acionado por meio de cartinhas, passando pela rede de fornecedores até o chão de fábrica, no Polo Norte, a cadeia responsável pelo supply chain e a mão de obra barata eram formadas por gnomos, anões e, recentemente, chineses, sobretudo na manufatura e no empacotamento dos brinquedos.

Evidentemente, havia muita mentira no saco sem fundo que caracterizava o monopólio do canal de distribuição, que deveria obedecer ao fuso horário mundial. Eram incansáveis renas galopando no sentido do relógio, tendo que cobrir hemisférios opostos, divididos entre a neve e o calor implacável.

Por tudo isso eu recusava a figura do Papai Noel infalível no delivery, aquele que não se esquece de ninguém. Até que, ontem à noite, eu soube que a lenda estacionaria o seu trenó no Supremo, para a alegria dos ambientalistas, dos sem chaminés, da sociedade protetora dos animais e da ANAC, entidades que sempre lutaram bravamente contra a exploração comercial das renas aéreas.

No último minuto antes do recesso, antecipando o presente simultâneo de milhões e milhões de brasileiros, as renas chegaram aos Renans. É o milagre de Natal. Apesar da falta da barba e do gorro, os cabelos brancos e a barriga de procurador geral de chaminés não enganam. Deve ser ele! O problema é que ali no STF não tem criança. Podem não acreditar nele e nem na extensa listinha que provocou a entrega.


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