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Contingenciamentos

  • Sérgio Bandeira de Mello, Gico
  • Dec 30, 2016
  • 2 min read

Contingenciamento é um corriqueiro eufemismo. Na verdade, a palavra significa corte. Não na carne, mas no sentido de suspensão da execução orçamentária. Ou seja, apenas nos açougues e frigoríficos a semântica não seria devidamente contingenciada.

Feita para inglês ver, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, a popular LDO, é uma peça de ficção em bom português. Como sempre mais contundentes, os castelhanos vendem caro a rendição à falência. E não por acaso a maior loja de departamentos da Espanha chama-se El Corte Inglés.

É lá, nos milhares de caixas espalhados entre a Catalunha e a Galícia, entre Aragão e Andaluzia, que os espanhóis sentem o peso do refinanciamento da dívida. Motivo do eterno separatismo, a política da farinha pouca explica e rege o contingenciamento monárquico que reina por lá. Aqui não é diferente. Ou melhor, não era, pois uma casta de privilegiados recorreu ao Supremo e foi atendida. E o separatismo latente é outro, não regional, quase individual.

Ganha uma quentinha com bife, feijão, arroz, macarrão e salada quem acertar qual fundo há de ter obrigatoriamente fundos. Sim, você leu o Globo de hoje e acertou na mosca que sobrevoa o prato feito, caro leitor, o penitenciário. Mexam fundo em tudo, no de garantia, no de amparo ao trabalhador, no de telecomunicações, mas não no da turma do sol quadrado. Esse deve sair redondo do bolso duplamente roubado, antes e depois das grades.

Os recursos, garantidos pelo STF, são destinados à aquisição de equipamentos para unidades prisionais. Ar condicionado para Bangu? Aquecedores para Curitiba? Celulares e carregadores para sequestros forjados? Computadores para internet e chats com advogados? Televisores para acompanharem os crimes do momento?

O pacote de bondades preparado pelo governo não especifica os bens, mas por que a sociedade deve arcar com mais esse ônus? Será que o apartamento do Leblon, a cinematográfica mansão de Mangaratiba e as joias confiscadas de Cabral e senhora não poderiam ser convertidas nesses benefícios? Será que os aconchegantes chalés serranos de Paulo Roberto e Cerveró não deveriam ser vendidos em prol dos demais colegas apenados? Será que os sítios, fazendas, coberturas e prédios para a instalação de institutos e museus pertencentes aos diversos amicíssimos do Lula não fariam bem a Dirceu, Palocci, Vaccari e outros bons amigos esquecidos no Paraná?

Essas coisas me vieram à cabeça enquanto contingenciava o cabelo, e via pequenos os tufos grisalhos tomarem o avental verde que poupava o colarinho branco da minha camisa. Por que a sociedade tem de poupar os milionários presos no luxo domiciliar? Já não basta que sustentemos as nababescas mordomias daqueles que ainda estão soltos? O fato é que está chegando a hora do contingenciamento dos impostos.


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