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Os papagaios do Maracanã

  • Sérgio Bandeira de Mello, Gico
  • Jan 13, 2017
  • 3 min read

Não houve Jornal dos Sports, no auge da popularidade, que fizesse o Maracanã ser chamado de Mário Filho, irmão do Nélson Rodrigues, dono do cor-de-rosa, como era conhecido o diário, jornalista que acabara de falecer. A homenagem não vingou. Rolou, mas não colou. Como não pegou o S.A. no rabo imposto pelo consórcio liderado pela Odebrecht, a empreiteira arrependida que metera a mão na obra.

Nascido às margens do rio bipolar que lhe emprestou o nome, ora um tímido córrego, ora o caudaloso responsável pelas enchentes da Praça da Bandeira, o estádio foi erguido para a Copa de 1950 no lugar do antigo Derby Club. Em vez de cavalos, por sinal, também chamados de craques no então badalado turfe, dez de cada lado correndo e um amarrado na baliza, destruindo a grama.

Segundo alguns linguistas, Maracanã é corruptela do tupi-guarani paracau aná, papagaios juntos. Ou, para outros especialistas, trata-se de temo oriundo de maraca nã – barulho semelhante ao chocalho, vertente mais afinada com Djavan.

Eu, que morei por duas décadas em uma casa cujo quintal era atravessado pelo médio curso do rio, e também jogador de futebol de salão do Montanha Clube (bem mais difícil que futsal), localizado a montante, posso asseverar senão a autenticidade, pelo menos a verossimilhança das interpretações, que ainda incluem especulações derivadas do dialeto carajá-tamoio, que chamava a barulhenta maritaca, que até hoje habita a região, de papagaio pequeno.

Como os distintos leitores e as encantadoras leitoras devem ter notado (copyright by João Ubaldo, por saudades eternas do mestre, ex-zagueiro no Recôncavo), não procedi como o filho daquele injustiçado e perseguido político, que garimpou ouro na internet, faturando milhões apenas com recorte e cola. Aqui há pano pra manga, quase um PRONATEC em corte e costura.

O fato é que desde a nascente, no maciço da Tijuca, o rio encachoeirado faz jus às teorias (vozes e percussão). Porém, se o curso d’água harmoniza com as alegadas corruptelas, não combina com os assumidos corruptos que, ainda hoje, insistem em ditar o futuro do estádio homônimo, nosso, só nosso.

Em outras palavras, em bom português, a concessionária e o poder concedente não reúnem as mínimas condições de impor coisa alguma aos torcedores. Estes pagaram a obra, a reforma do PAN, a contrarreforma padrão FIFA, a pós-reforma olímpica e o acabamento para a retomada dos jogos.

Rubro-negros, tricolores, vascaínos, botafoguenses, americanos e banguenses se veem privados de seu templo, mas só posso falar por mim. Pois vamos lá: estou prestes a vê-lo profanado para apresentações de dinossauros do rock, estrelas do axé, rainhas do funk, festivais de música gospel, descidas de Papai Noel, pregações ecumênicas e outras papagaiadas. Tudo porque a Odebrecht, um francês e Pezão querem. E fica tudo por isso mesmo, na base do contrato juridicamente perfeito, como se a Lava-jato não tivesse desvendado o que se passava no governo do estado e o que fazia a Odebrecht! Três séculos mais tarde, temos um novo Duguay Trouin em ação no Rio de Janeiro, a negociar com quem não tem representatividade ou vergonha na cara para fazê-lo.

Mesmo em um jogo de Libertadores com potencial de 70 mil espectadores, eu, urubu, serei forçosamente deslocado para a Ilha do Governador por causa de papagaios assumidos por outro governador, cujas finanças seguem pipocando pelos fundos. Sim, após denúncia do COAF, hoje surgiram mais de R$ 38 milhões nas contas de Cabral, desde a Delta o desenvolto cafetão das obras do Maracanã, cujo filhote garante o direito da Odebrecht à escolha do próximo controlador sem maiores questionamentos.

Tijucano de origem, frequento o Maracanã desde os 9 anos. Fui arquibaldo quando menores de 14 anos acompanhado de (ir)responsáveis não pagavam na arquibancada e geraldino quando acabou a sopa. Fui viciado entre os 11 e o fim da geração de ouro, de Zico, Júnior, Adílio,Leandro, Andrade e grande elenco. Geralmente no vigésimo sétimo degrau atrás do poste esquerdo.

Aos 61 anos, sigo com vontade de ver o Flamengo ao vivo em jogo parrudo sem ter que pegar avião. Nos jogos menores, posso ficar pertinho do aeroporto, sem problema. Mas o Maraca é meu.


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