Carta ao decano
- Sérgio Bandeira de Mello. Gico
- Feb 10, 2017
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Brasília, 10 de fevereiro de 2017
Senhor Ministro,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Tenho certeza de que não seria necessária a tradução para língua de Camões, haja vista a erudição do decano da mais alta Corte do país, cuja oratória julgo próxima de um Cícero.
Entretanto, como vazou uma missiva minha à senhora presidenta de quem fui vice decorativo, pouco mais que uma mesinha de centro, temi que a epígrafe que introduz o presente desabafo pudesse ser entendida nas redes sociais como verba volante, escrita por maneta, muito embora os fatos que aqui relato tenham aparente similaridade com a nomeação para fins de foro privilegiado com um – digamos - dedeta mindinho. Trata-se da resposta a mim solicitada por Vossa Excelência cujo prazo determinado esgota-se em poucos minutos, arrazoado que visa a esclarecer a suposta promoção do engenheiro responsável pela ponte para o futuro.
Ocorre que, naquela oportunidade, e com a cumplicidade de um tal “Bessias”, messias fanho que viria não para nos salvar, mas para redimir apenas o artífice da própria presidenta, a prerrogativa de foro far-lhe-ia única e exclusivamente um freguês desta magna corte, a despeito de seu domicílio distante, que ofende, inclusive o conceito original de jurisdição.
Já a Medida Provisória que encaminhei ao Congresso Nacional teve o propósito exclusivo de por fim ao bullying ministerial que o meu secretário, parceiro público das privadas, vinha sofrendo na Esplanada.
Tive ciência da absoluta desconfiança com que os ascensoristas lotados no Palácio conduziam-no ao terceiro e quarto andares, não raro desqualificando o meu braço direito, cujo apelido, estampado por pessoa notória e insuspeita, é Gato Angorá. Ademais, é sabido que essa espécie de felinos necessita de afagos sucessivos, podendo a pobre criatura de Deus sucumbir diante da melancolia de não contar com a mão amiga e benfazeja.
Como é do conhecimento geral, flechado pelo cupido ou afogueado pela injustiça, ouso cometer alguns versos. Isso quando a inspiração toma o meu peito de assalto como uma bucólica paisagem capixaba.
Não está no caso Lula /a sorte do meu Moreira/ O tempo aqui se anula / Pois dura uma vida inteira / Ministro, ó magistrado/ É quem é mais bem talhado/ Conserve o seu lugar / e casse tal liminar.
Respeitosamente,
Michel Escrivaninha de centro




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