Apropriação Cultural
- Sérgio Bandeira de Mello. Gico
- Feb 14, 2017
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Sem entrar no mérito do episódio, bizarro pela própria natureza, a celeuma sobre apropriação cultural que tomou conta das redes sociais também daria samba na avenida política, praia desta coluna.
Portanto, apropriar-me-ei do metafórico turbante para puxar a brasa para a minha sardinha. E não me refiro ao bispo homônimo, primeiro do Brasil, pobre alma que não teve com quem reclamar sobre o corpo presente no autocardápio. Harmonizado com cauim frutado, tornou-se uma iguaria dos deuses, preparada e servida aos caetés não veganos.
Apesar do parágrafo acima, não pretendo voltar aos tempos do outro Cabral para um apanhado histórico que ligue a sua primeira relação com os índios pataxós, missa campal incluída, com os atuais caciques do PMDB, hoje espalhados de sul a norte, e de leste a oeste.
Entretanto, é inegável que o partido possua fortes raízes nordestinas, a exemplo da mandioca, cujo reconhecimento como apropriação cultural indígena mereceria uma pajelança comandada pela então presidenta. O encontro, sem a presença do autodenominado vice decorativo, peça pouco dada a compor ambientes dotados de ocas e praças de taba, seria o prenúncio do seu próprio Kuarup.
Sim, a despeito da memorável saudação, logo o coração valente sofreria um golpe, atacado pela mandioca-brava, de alta toxidade, mas que, na dosagem certa, é reconhecida como um bom remédio para sangrias desatadas.
Tiro e queda, zarabatana, cunha e curare, pouco depois da apropriação cultural, morreria a guerreira da pátria brasileira. Ressuscitada pelos pajés Renan e Lewandowsky ao final do ritual fúnebre, suas sequelas poderão ser tratadas em foro privilegiado.
Em batalha anterior, outros guerreiros do povo brasileiro tombariam diante de indireta apropriação cultural dos africanos. Dirceu e Genoíno, ao serem capturados pelos inimigos da elite branca, fizeram o gesto típico dos panteras negras americanos.
A mão para o alto, com o punho cerrado, gestual repetido exaustivamente nos pódios das Olimpíadas de 1968, motivou a aberração que viria em seguida, exatamente na abertura do ano legislativo de 2014, 45 dias antes do início da operação Lava-jato. André Vargas, branco, em protesto claro contra Joaquim Barbosa, negro, então presidente do STF e inesquecível relator do mensalão, ousou cutucar a pantera com vara curta. Não demorou a ser apropriado pela cultura das delações premiadas, ora em ameaça de extinção pelos caciques do PMDB.




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