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Samba fora do ritmo

  • José Paulo Pessoa
  • Apr 3, 2017
  • 2 min read

Comemoração do carnaval com a bateria do bloco. Morro do Rio, zona central, onde moram alguns dos componentes da bateria. A chapa anda quente em todos os cantos e os morros, sabemos todos, voltaram a ser território sem ordem, UPPs dando marcha ré. E vamos nós subir o morro, lá no alto, junto à quadra, imensa, com camarotes, split e o escambal. Churrasco, cerveja, tudo nos conformes. E a malandragem vigiando. Já na subida, pedindo informação do caminho para dois rapazinhos, eles pediram fogo para acender um baseado. Um cartão de visitas. Bela festa, bateria comemorando, e do teto da quadra se avistavam alguns “soldados” do tráfico com suas armas. Saco! Não se pode vacilar. Se olhar pra pessoa errada, na hora errada... Não sou da área, o bagulho é doido. Rolou a festa, bonita, animada, na paz. A vista dessas comunidades é sempre um deslumbre. A baía, a ponte, o Maraca, a Central, Santa Teresa, lindo de doer. Veio o fim da tarde com suas cores, o sol se pondo, a brisa, tudo lindo. E o pessoal armado na vigia. Saco! Não tenho mais disposição para isso. Já foi tempo. Cabelos brancos dão outras prioridades à vida. O que já foi um orgulho e experiência importante na nossa trajetória, hoje é sensação de má escolha, desperdício de energia e adrenalina desnecessária. Já passei por diversas situações, até arma na testa já levei (uma história bizarra), mas o tempo passou, a valentia está em outro registro, não tenho mais espaço para riscos deste tipo. Hora de ir embora, chovendo, corremos até o carro e paramos num bar, coberto, para esperar uma melhora no aguaceiro. O bar da boca, com armas em cima das mesas, baseados acesos, e nós, forasteiros desavisados, no lugar errado. Saímos rapidinho, a chuva era o de menos. As crianças se divertiram num pula-pula, as comadres se confraternizaram, adolescentes com seus bebês inclusive, o samba rolou, o churrasco idem, o tráfico, idem. É a rotina de nossos morros, lugares tão especiais, gente tão especial - nosso povo, afinal - e a lei é a do tráfico. Até quando? Nova política de drogas, senhores.


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