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Loucos amores

  • Eduardo Simbalista, DP
  • Jun 10, 2017
  • 2 min read

Recomenda-se aos casais guardarem sempre um pouco de mistério; se sabem demais um do outro correm o risco de ficarem reféns de si mesmos, se se conhecem demasiado, podem acabar prisioneiros um do outro.

Isto porque, explicam os doutores em amor, é a si mesmo que o amoroso ama quando ama o outro. E essa identificação de si mesmo no outro pode acabar por revelar segredos inconvenientes.

Talvez por isso se faça sempre um pouco de teatro nessas histórias de amor, de modo que as mascaras fiquem apenas veladamente reveladas para a sedução. E parece sempre bom temperar o amor com um pouco de guerra. Afinal, na arte de amar não se sabe bem quando começa ou termina a guerra dos sexos.

Alguns casais levam essa guerra sem trégua e se felicitam por isso. E, nesses tempos de desamor, até que merecem aplausos.

Todo conceito de amor romântico baseia-se na dependência do outro: mesmos nos tempos de hoje, há quem se apaixone apenas para não ficar só. É a vida miserável dos que mendigam o amor: a suprema miséria de depender da vontade do outro, no enunciado de Publius.

Nessa penúria, nem o amor sabe o que o amor é, nem a dor que ele causa sabe que dor é: “O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu sou meu, como serei teu, ou tu minha?”, indaga Fernando Pessoa.

Mas cuidado: o paroxismo do amor pode levar ao crime e à desgraça, quando, como na frase de Pavese, “a paixão torna-se quase um vício: o objeto da paixão torna-se imprescindível”.

Aí a loucura se oferece como salvação, como alívio para os pesares do amor, a loucura como fuga do amor de amar demais.


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