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Oscar de melhor filme estrangeiro

  • Luciano Bastos, DP
  • Feb 14, 2018
  • 2 min read

Uma boa safra este ano trazendo Suécia, Chile, Rússia, Hungria e Líbano na disputa. CORPO E ALMA da Hungria se ocupa da transposição da realidade para o sonho de dois personagens que trabalham num frigorífero. Ela no Controle de qualidade, ele nos Recursos Humanos. O distanciamento entre eles no cotidiano é quebrado nos sonhos que compartilham. Uma narrativa quase fabular que discute tanto as dificuldades de relacionamento como também as frustrações sexuais. Do Chile vem a atriz e cantora lírica Daniela Vega, uma transexual que vive suas dificuldades em UMA MULHER FANTÁSTICA (Una mujer fantástica, Sebastian Lelio) ao querer prestar homenagem ao seu amante falecido. A família do morto rejeita aquela relação que considera imprópria, indesejável e promíscua. Um tema atual tratado com coragem, sem cair na tentação do panfletário, deixando um rastro de reflexão depois dos 120 minutos quando se acendem as luzes. THE SQUARE (Suécia, Ruben Ostlund) é uma ótima sátira sobre a arte moderna, o papel dos museus e a responsabilidade social da propaganda. O filme vai do non sense ao filosófico com uma agilidade surpreendente. É divertido e instigante ao mesmo tempo. Sem entrar ainda numa avaliação do filme libanês (INSULTO), o único ainda não visto, devo ressaltar que a produção russa SEM AMOR (Neyubov, Andrey Zvyagintsev) é o meu favorito. Um retrato seco e sem retoques de uma família desestruturada, numa casa onde não há nenhum traço de afeto, onde uma criança de dez anos se sente perdida pela falta de amparo. A metáfora da solidão está presente na longa introdução em que o menino faz o caminho da escola para a sua casa. Além da angustia daqueles que protagonizam uma vida dupla, há personagens amargos como a mãe da Zhenya (a belíssima Maryana Spivak) e a própria jovem ansiosa que namora o marido de Zhenya. O que fica marcante nesta safra de películas é a preocupação em centrar as tramas nas variações do comportamento humano, a síndrome da solidão, do desamparo, da mitificação do sexo, a construção e desconstrução da fantasia, a conceituação de beleza abstrata que traz significados discutíveis, e o ser humano frente a todas essas questões como sujeito e objeto. Esse universo de traços psicológicos faz com que o drama interiorizado por cada um seja até mais potente que o drama trazido pelas conjecturas externas. Se no ano passado o sofrimento era alimentado pela tortura (O Filho de Saul) este ano ele vai encontrar seu caminho na degradação existencial fruto de escolhas e incertezas. Vamos esperar pelo libanês e ver o que acontece.

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