Intervenções
- Sérgio Bandeira de Mello, Gico.
- Feb 19, 2018
- 3 min read

Abalizadas, cirúrgicas e arrojadas, estamos todos acostumados às intervenções de comentaristas, médicos e goleiros, que não podem bobear ou bater roupa e, assim, dar chance de desmoralização, recidiva ou rebote.
Já as intervenções militares com ressalvas, até ali no organograma do executivo, até ali nas divisas, isso é novidade por estas bandas fluminenses. Tanto que, com as barbas de molho, os paulistas, mineiros e capixabas já se movimentam para conter os bondes migrantes em escala estadual, fuga em massa do tipo Rocinha – Vidigal.
Já por aqui, os petistas e aliados do socialismo com liberdade – gargalhada do autor - prometem boicote à medida extrema, motivada pela falência do Estado do Rio de Janeiro em todos os sentidos - poderes e respectivos controles incluídos.
No meio do tiroteio que se seguiu ao anúncio - desta vez na internet, felizmente, o último havia sido na Linha Vermelha, perto da Maré -, tenho recebido de diversas fontes uma entrevista de uma especialista em segurança pública da UFF. É, depois do vampiro da Tuiuti, que perdeu a faixa presidencial para o desfile das campeãs, a coqueluche das redes sociais.
A Globonews golpista convidou essa professora para uma breve exposição sobre a intervenção. Nas palavras dela, nada otimistas, a entrega de parte do governo é pior que seis por meia dúzia. Pois minha mente cartesiana calcula que fomos reduzidos à meia dezena, no máximo. A ver.
Com a velocidade de um fuzil automático AR-15 ou AK-47, a gosto do receptador potencial de balas perdidas, essa senhora disparou para todo lado, tendo demonstrado grande conhecimento de causa. A metralhadora giratória, digamos, fez um estrago no discurso do vampiro, decerto eleitoreiro, posto que reduzido a uma pirotecnia carnavalesca, midiática, sem qualquer planejamento.
Depois de reclamar da falta de relatórios das operações GLO, sigla de garantia da lei e da ordem, classificou as intervenções militares na segurança, realizadas desde o encontro mundial de cúpula sobre o clima, Eco-92, até as últimas, olímpicas, como espanta-barata que sofre de síndrome do cabrito, que sobe e desce morro.
Vale a pena conferir o ritmo alucinante de tiros desferidos sem complacência. Porém, no meu entender de multivítima desde 1981, meu primeiro arrastão, ou 82, primeira de muitas armas na cabeça, a coisa a ser feita não é tão evidente como dá a entender a comentarista do dia.
Com a dura experiência de sequestrado, assaltado, só e acompanhado, nem sempre com BO registrado, tive que concordar com a professora em diversos pontos, mas ser pedra é bem mais fácil que vidraça - argumentei com meus apavorados botões. Mesmo vidraça blindada pela História dominada.
Faz pouco tempo que, na estrada, dirigindo sozinho, de volta de Araras, sem condições de acessar o aplicativo de utilidade pública OTT, Onde Tem Tiroteio, pude avaliar todo o desespero que um morador da Maré vive a cada dia. Na mesma viagem, mais adiante, na Gávea, engarrafado, testemunhei dois assaltos, realizados pela popular dupla motorizada: piloto maluco e garupa armada. Meu carro velho me salvou dessa limpa instantânea.
Quando Brizola ganhou a Linha Vermelha sem pedágio do então aliado Collor – acredite, se quiser - para a condução dos chefes de estado do Galeão à Zona Sul, o caudilho gaúcho planejou segurança das excelências mundiais, mas não dos cariocas. Deu no que deu, inclusive na caríssima Linha Amarela, a do ex-pupilo César Maia, pai do contrariado presidente da Câmara.
Por ignorância acadêmica, mas não empírica, infortunadamente, não quero polemizar segurança pública com a comentarista, bem mais preparada no assunto. Porém, na condição de atento observador político, dotado de boa memória, eu creio que faltou à entrevistada mostrar uma velha marca de bala no pé.
Será que ela se esqueceu de que, em seu currículo, constam as cicatrizes de ter exercido cargo de direção na segurança do governo Garotinho, e de ter assumido a coordenadoria de segurança pública no governo Benedita?
O dirigível que flutuou pelo Rio lembrou-me disso.
Pois é. Os goleiros e os médicos não podem errar. Já os comentaristas de plantão, estão aí pra isso: dar palpite, não raro, infeliz.
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