Uma convenção para De Gaulle
- Sérgio Bandeira de Mello, Gico
- Jun 11, 2018
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No tempo em que fake news eram apenas notícias falsas ou versões recheadas de verossimilhança, a narrativa vencedora foi a que, tal e qual um Zidane fardado e crivado de medalhas, precisou vir um premiê da França para nos impor o diagnóstico de que não éramos um país sério.
Nos tempos anteriores às duzentas milhas marítimas, em plena Guerra da Lagosta, em maiúsculas, por sinal um belo prato para corroborar a suposta frase, o líder da resistência na Segunda Guerra teria sapecado um deselegante “Le Brésil n’est pas un pays serieux”no Itamaraty, sem que os nossos punhos de renda pudessem reagir. E tudo por falta de confirmação diplomática à assertiva recheada de hostilidade, com carregado molho beligerante e pitadas de escárnio.
Entretanto, 55 anos mais tarde, o polêmico general enfim recebe a mais alta sinalização post mortem de sua acurada visão estratégica, que possibilitaria o desabafo por meio de um muxoxo, seguido de um característico comentário bufado, típico do eminente filho de Lille que tomaria o Palais de L’Elysée pelo voto.
Fato é que a alma de De Gaulle não cansa de gargalhar desde que acompanhou, de sua poltrona no além, a solenidade em que Lula, em Curitiba, espécie de além mais terreno, para onde vão os petistas quando morrem para a vida pública, foi aclamado candidato do partido no próximo pleito.
Inequivocamente, o prodígio deveria ter sido saudado como um teletransporte do outro mundo, não fosse De Gaulle o nosso algoz para assuntos psicossociais dotados de cunho político eleitoral.
Mesmo que haja controvérsias quanto à localização do espectro, que muitos dizem estar no subsolo, bem abaixo do “rez-de-chaussée”, coisa recentemente desmentida pelo Papa Francisco, um histriônico Charles chegou a ficar inconveniente em pleno firmamento celeste. E o fez acintosamente ao apontar quatro governadores brasileiros presentes à festa cívica de lançamento de um candidato preso: Monsieur Lulá, com pena prevista a ser vencida após três períodos sequenciais correspondentes ao pretendido mandato. C’est vrai!
E para coroar a grande festa da democracia, realizada em Contagem, talvez pela possibilidade de ser regressiva nesses próximos 12 anos, o mote escolhido foi “O Brasil feliz de novo”.
Foi quando De Gaulle repetiu a máxima, no mínimo com uma banana extraída do seu melhor ectoplasma para assombrar as relações exteriores de Celso Amorim, antigo chanceler, também presente ao surreal encontro.
Assim, graças ao deus petista, De Gaulle fez–se feliz de novo, desta vez por não ter que desmentir seu veredicto por causa de diplomacia barata.
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