Entre milicianos e militares
- Eduardo Simbalista - DP
- Mar 27, 2019
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A política nem sempre é feita de belas palavras. Ainda que elevada à categoria de arte, a política não é para poetas, embora não deva ser feita aos coices e pescoções como nas brigas de esquina. Como no “meu reino por um cavalo” shakespeareano, o Brasil espera, com ansiedade já trimestral, que o candidato Bolsonaro apeie do “Cavalão” e acerte o passo, indo afinal sentar-se na cadeira de presidente, abdicando da persona de militante dos tuítes da madrugada. Ora, ou isso se fará logo, como numa freada de arrumação que leve à tomada de consciência face às graves responsabilidades, ou levará tempo, acumulando crises desnecessárias e dispendiosas, ou não acontecerá, como no caso de Jânio, que imaginou governar por bilhetinhos, o tuíte da época. De Deodoro a Getúlio, de Figueiredo a Dilma, exemplos não faltam: o poder não muda a natureza das pessoas. Mudar pressupõe vontade, esforço e apoio. Políticos têm bom faro e ainda melhor apetite. Sofrem da síndrome de Münchhausen, diagnosticada hoje como “mimimi”, e identificam logo as fraquezas que se escondem sob os mitos, digitais ou não, que estão na construção dos líderes religiosos, dirigentes populistas e joões de deus. Como sentenciou o craque Gérson, filósofo do Brasil macunaímico e, por isso, mais sábio do que muitos “olavetes”, querem levar vantagem em tudo: pressentem quando está para começar o troca-troca de modo a garantir o “meu pirão primeiro”, enquanto a casa não cai, pois já se ouve o “vai dar merda” nos cantos das cassandras e vivandeiras e no muxoxo dos áulicos. A política é também a arte do possível. Mesmo num regime presidencialista como o brasileiro, o presidente pode muita coisa, mas, por certo, não pode tudo. O governo Lula também começou mal, com muita discussão e pouca execução. O que está claro, agora, é que o presidente tem desperdiçado a oportunidade de avançar no que é possível: nunca um presidente jogou fora tanto capital político em tão pouco tempo. Os analistas dizem que está desidratado. Perto de 100 dias de governo, fez nada, a não ser meter-se num emaranhado de erros e escorregar em falsas cascas de banana. Como se estivesse em luta permanente com o alter ego “Cavalão”, tem se esmerado em auto-sabotagem, fazendo impecável oposição a si mesmo. Eleição não garante sucesso. A coesão social, revelada na eleição, vai sendo minada por decepção parecida com o 7 a 1 do Felipão. O sucesso pode ser perverso e a vaidade pode ser má. O sempre prometido novo na política está com cheiro mofado de tudo igual outra vez. Os porões cavilosos do mundo virtual escondem grupúsculos do quanto pior, melhor. Para não chegar lá, é separar o joio do trigo. Aplacar vaidades e ciumeiras das panelinhas improdutivas, evitar o desgastante tiroteio virtual contra as instituições, segregar os agitadores milicianos e os guerrilheiros digitais. Fortalecer o grupo de inteligência, do planejamento e da operação e dar voz de comando aos auxiliares, militares, planejadores, economistas: trabalho e resultado, mesmo que isso envolva negociação, concessão e entendimento. Afinal, o prometido Brasil acima de tudo. O Brasil tem problemas demais e já perdeu tempo demais. Só Deus.
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