Armas de destruição de massa
- Jason Prado
- Sep 30, 2024
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Updated: Oct 29, 2024
Jason Prado - 30/09/2024

Você mal acorda e começa o bombardeio.
Não, você não está no Oriente Médio, nem no Leste Europeu. Você nem saiu da cama ainda. Mas os arautos do Armagedom já estão em suas posições de ataque, e você já recebeu dezenas de mensagens noturnas, com os alertas do apocalipse.
Para ter sua atenção, já codificada pela artilharia inimiga, inventam de tudo: mais um meteoro pode cair na sua cidade; a Rússia vai usar armas atômicas; o Irã chamou Israel pra briga; os comunistas estão comendo crianças; cucarachos estão comendo pets... e você não está comendo ninguém.
O bombardeio continua ao longo do dia.
Acostumado, você mal passa os olhos na enxurrada de barbaridades. Interage aqui e ali, mais pelo seu medo de ser banido do que pela comunhão de ideias. Nem se dá conta dos minutos ou horas desperdiçadas. Age guiado pelo instinto de preservação, por pura necessidade de pertencimento. Por hábito. Ou porque gosta da brincadeira. E assim, fortalece o inimigo.
Você não se dá conta, mas as redes apertam cada vez mais, alimentando os discursos de ódio, semeando a discórdia, apartando famílias e amizades antigas.
Não há arma com maior potencial destrutivo do que as redes sociais. Bombas matam. Bombas destroem cidades inteiras. Bombas subjugam nações.
Mas as Redes Sociais desagregam. Jogam uns contra outros, com o único propósito de ganhar mais um like. Mais um “joinha”.
A encarnação do Big Brother de Orwell não é o estado policial, presente em cada poste de esquina. O verdadeiro Big Brother é um monstro disforme, intangível, inconsciente e onipresente, formado pela multidão totalitária de usuários das redes sociais, os produtores de um novo Inconsciente Coletivo.
Empoderado por celulares cada vez mais eficientes, este inconsciente coletivo se move à velocidade da luz, cresce com a tal da IA, e se alimenta de inveja; de frustração, inverdades e teorias de conspiração; de patrulha ideológica; de curiosidade mórbida, maledicência e crimes cibernéticos.
E os cavaleiros desse apocalipse são os novos produtores de verdades: os tais influenciadores digitais, com seus exércitos de seguidores que se aglomeram na porta da prisão para soltar seus ídolos. Que anseiam para dar seu voto a quem nega a democracia. Que acreditam no X (ou em qualquer outra dessas porcarias) como instrumento de liberdade de opinião.
No dia 26 de agosto de 2024 uma dessas redes mais conhecidas pelas dancinhas estranhas que estimula as pessoas a fazer e que atraem milhões de seguidores, comprou uma sobrecapa do jornal O Globo – quatro páginas – para dizer a nós, brasileiros, como ela está ajudando a ler, escrever, educar e vender livros.
E o jornal, sem qualquer constrangimento ou ressalva, publicou.
Pobre de mim, que perco tempo escrevendo esse tipo de coisa e publicando nas redes...
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